terpsicore

pela divulgação e crítica da arte transdisciplinar do Movimento.


La Doulce Mémoire du Agréssive Mouvement

"Ni kan tiyen, sewa tiyen. Ni sewa tiyen, kantiyen"
Sem música não existe alegria; sem alegria não existe música. 1)

Doce é a Memória telúrica, de evocação das nossas raízes 2) , sejam elas quais forem, que nos dizem a forma do movimento...quasi sem pensar.
Agressivo o Movimento, quando quer ser igual-competir com o ritmo diabólico da música.
Foi 2006, o ano em que a sorte-destino fez com que fosse ao espaço Contagiarte no Porto, espreitar uma das aulas de dança tribal africana da Eva. Era a última aula de Junho no Estúdio-Anfiteatro..e a magia do movimento que brotava das três sementes - Dora, Mónica e Vanessa - germinou cá dentro. No outro ano fui lá experimentar, e a paixão por esta dança-que-deseja-apenas-sair-de-dentro-de-nós-qual-exorcismo-da-alma-cansaço-do-corpo...foi crescendo.
Contrariamente ao que possamos pensar, a dança tribal africana é bem diferente da dança a pares como o kuduru ou kizomba: uma dança oriunda da África negra 3) das terras de Guiné-Conakry que evoca os rituais ancestrais da caça, pesca, da guerra, da sedução, mas que estranhamente se assemelha ao exercício do movimento no Moderno e Contemporâneo. (?)
Existe acima de tudo Libertação: dos códigos clássicos, dos códigos pessoais. Não existem espelhos, pés esticados, frentes..Existe uma atracção à terra, movimentos em roda 4), mas acima de tudo, Alegria! Existe quebra de preconceitos na imagem do movimento, já que o movimento mais belo não é aquele que é treinado, decorado pela Mente...mas sim o que surge do Corpo. E para isso, toda a aprendizagem não é mais do que um processo de desconstrução, de purificação, de anos e anos de regras anti-naturais.
Mas ser natural, aprende-se? Talvez seja algo que exista ou não exista...que não se possa aprender (?) Talvez seja algo que possamos descobrir, mas que tenha de existir já..Talvez seja de facto algo que possa mudar em nós. Acima de tudo precisamos de dançar para nós próprios, sem nos preocuparmos com a Imagem projectada do Movimento.
Conheçam Mamady Keita e Famoudou Konate, dois famosos djembefola (djembefola=aquele que dá voz ao djembe). Conheçam e apoiem Os Semente e Dyabara, dois projectos fantásticos aqui do Norte que partilham, motivam e comunicam a paixão por África.

Obrigada Eva e Xibata por esta fantástica viagem africana de aprendizagem tanto na Dança como na Música.



1) provérbio Malinké in www.ttmusa.org; segundo o Portal das Comunidades Portuguesas são 3 as etnias da Guiné-Conakry: Peul 41%; Malinké 30%; Soussou 15%;
2)Porque o Movimento dito antigo, provém de todos os continentes...As tradições que chegam até nós pela via do manuscrito ou da palavra falada são igualmente maravilhosas. E se calhar por isso a música dita antiga e a música dita tradicional comunicam o mesmo, com linguagens diferentes.
3) África negra é o nome da região do continente africano que abrange os países situados abaixo do deserto do Sahara.
4) "A Dança" , 1910, de Henry Matisse, evoca os ritos ancestrais e é inegável a inter-influência com os temas da coreografia de Nijinsky para a "Sagração da Primavera", de Stravinsky, de 1913.

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