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pela divulgação e crítica da arte transdisciplinar do Movimento.


Dido and Aeneas, Henry Purcell

Foi já no dia 1 de Dezembro, a apresentação da ópera"Dido e Eneias" no Auditório Municipal de Espinho, pelo grupo La Nave Va, com direcção musical e artística de António Carrilho.1)

Experienciar esta obra de Purcell 2), é sempre um atentado aos sentidos. E há tanto a dizer sobre a peça..que ela quase nos emudece. Este encanto tem uma raiz que me é muito querida, a transversalidade artística - na música e na dança. Não sei aqui o que vem primeiro..se o encanto pelas inúmeras danças que a obra contempla, se os momentos musicais que ela proporciona.

Esta relação da obra com a dança, podemos dizer que é historicamente informada 3), embora ela seja alvo de inúmeras recreações coreográficas 4). Uma das mais emblemáticas recreações musico-coreográficas foi sem dúvida a da coreógrafa alemã Sasha Waltz, levada a cena no CCB em Março deste ano e que contou com a Akademie für Alte Musik Berlin. Abaixo apresenta-se um dos excertos iniciais da obra, desta coreógrafa, no ano de estreia, 2005.

A relação com a música é....inebriante. Por isso, mesmo admirando criações mirabolantes como as de Sasha Waltz, com bailarinos debaixo de água, etc....esta obra tem um fascínio musical, que Comunica, mesmo com a ausência de movimento. Com isto quero dizer..que uma versão concerto, sem qualquer exaltação de figurino, cenário..ela é de igual forma (ainda mais?) soberba. Faz então com que todas as formas de encenação literal..soem a falso. O bosque, os marinheiros, as bruxas, as demasiadas personagens que o libreto descreve; não precisamos de narrações, de arbustos, de projecções de imagens..Precisamos dos músicos enquanto músicos, dos cantores enquanto cantores, que só por si, fazem estremecer. Quem não conhece, recomendo vivamente..a audiçao de toda a obra. O lamento de Dido, "when i am laid o earth" é notoriamente perturbador:

When I am laid in earth, may my wrongs create
No trouble in thy breast,
Remember me! but ah! forget my fate.



Parabéns a António Carrilho pela rigorosa direcção musical e parabéns a Sónia Alcobaça pela fantástica interpretação enquanto Belinda e 2nd Whitch.



1) Para informações sobre os seus intérpretes, vd. auditoriodeespinho
Sobre La nave va ensemble barroco, vd. lanavevaensemblebarroco ; sobre o Grupo Vocal Olisipo, vd. grupovocalolisipo

2) Para uma pequena nota biográfica vd., guiadamusicaclassica

3) Vd. "Dance Mouvements" in http://www.bbc.co.uk/dna/h2g2/alabaster/A425909

4) Esta ópera foi também apresentada anteriormente em 2003, no Porto, com direcção musical do Maestro Eugénio Amorim, encenação de Jane Davidson e coreografia de Catarina Costa e Silva, vd cienciapt.info/pt

5) Mais informações em sashawaltz.de


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3 Responses to “Dido and Aeneas, Henry Purcell”

  1. # Anonymous Anónimo

    é verdade que a música só por si vale e que a dança também... mas parece-me que com a conjugação das artes há uma maior complementaridade... os figurinos e o espaço cénico podem também ter algo a dizer e ser, por si, algo de muito belo.  

  2. # Blogger dant

    Olá Joana! Concordo completamente contigo. Então em ópera, toda a ideia da obra-de-arte-total que tudo engloba é verdadeiramente fascinante. Mas coloca o desafio artístico num nível - a meu ver - superior, que ultrapassa os desempenhos artísticos em separado. E assim, quando uma das partes é francamente má, todo o conjunto sai desvalorizado. E perde-se o prazer de ouvir a música, ver o movimento e sentir o espaço.  

  3. # Anonymous Anónimo

    Olá dant!Tens razão, qd algo é mau, tudo parece pior, mas quando algo é bom, completado por outra coisa também boa, então o prazer ainda é maior!  

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